terça-feira, 26 de março de 2013

O "Evangelho da Prosperidade"

Imagem retirada de: http://paulocerozino.blogspot.pt “A sua realização é a nossa satisfação!”, lê-se no cabeçalho de um jornal distribuído gratuitamente pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Tal como o seu slogan, “Ajudamos a realizar o seu maior sonho!”, o engodo está lançado e as redes enchem-se aos milhares, como os bolsos destes pescadores, não de homens, mas do dinheiro de homens e mulheres desesperados em tempos de crise. É conhecido o estilo de vida luxuoso dos líderes desta seita, bem como os escândalos financeiros que, com alguma frequência, são relatados na comunicação social. São proprietários de várias estações de rádio e televisão onde, de forma carismática, os pastores e bispos arrotam blasfémias em troco de lucro fácil, enquanto pregam o seu “Evangelho da Prosperidade”, um movimento religioso radical que promete que uma vida com Cristo é uma vida sem problemas. O seu discurso inclui heresias como: “Deus quer você rico e você deve associar-se a Ele, pela fé, para buscar riquezas”. Que evangelho é este que está a ser pregado? Em primeiro lugar, este “evangelho” é outro evangelho, como diz o apóstolo Paulo na sua carta aos Gálatas: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho; o qual não é outro, senão que alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema (maldito).” (Gálatas 1:6-8). Escrevendo a Timóteo, diz: “Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele; tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências (desejos, paixões) insensatas e nocivas, as quais afogam os homens na ruína e na perdição. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males…” (1 Timóteo 6:6-10a). Somos advertidos na Palavra de Deus para os perigos das riquezas e hoje muitos são enganados por “falsos mestres” a desejarem essas mesmas riquezas. A Palavra do Senhor é clara: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu (…) Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração. (…) Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas.” (Mateus 6:19-21, 33). Buscar o reino de Deus significa buscar que Deus reine na nossa vida e não realizarmos o nosso maior sonho! Significa que seja feita a Sua vontade e não a nossa, significa sermos cumpridores da Sua palavra. E, quando o fizermos, todas as outras coisas nos serão acrescentadas. Certo dia um jovem judeu rico inquiriu Jesus sobre como alcançar a vida eterna. Ele cumpria todos os mandamentos, mas sentia-se incompleto e disse: “Que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem, e segue-me. Tendo, porém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste, por ser dono de muitas propriedades.” (Mateus 19:20b-22). O coração deste jovem estava no sítio errado. Focado nos seus bens materiais e não querendo abrir mão deles, ele perdeu a oportunidade de seguir Jesus. Deixar tudo para segui-Lo foi o que fizeram os Seus discípulos. Isso parece, aliás, ser condição para o fazer. E nada lhes faltou, mas a nenhum deles Jesus prometeu riquezas, pois sabia que a riqueza é um empecilho para quem O segue e não deve ser o motivo pelo qual O buscamos. Se você é um Cristão, a sua consciência tem de estar muito endurecida para levar um estilo de vida luxuoso porque não é isto que significa negar-se a si mesmo, seguir a Jesus, morrer todos os dias em Cristo ou ter um tesouro no céu. Logo a seguir Jesus afirma: “Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino dos céus.” (Mateus 19: 23, 24). Por que razão Ele diria isso? Depois de o ouvir, quem desejaria ser rico?! Como é possível pregar-se um “evangelho de prosperidade” em nome de Jesus, quando o próprio Jesus diz para nos livrarmos das riquezas?! Não faz sentido! Esta seita dita Cristã usa a mentira e a ilusão numa perspetiva pagã panteísta, transformada num enredo espiritual, elaborado para enriquecer os seus líderes, à custa das orações materialistas dos seus seguidores. Usam estratagemas como o cobrar bênçãos a Deus: “Se você crê que receberá, então já recebeu e deve cobrá-lo de Deus”. O próprio bispo Edir Macedo, o magnata financeiro proprietário desta indústria milionária, afirma que “tem de chegar o momento em que você cobra (…) do seu Deus.” Pergunto: Será Deus obrigado a dar-me aquilo que eu quero? É Ele o meu servo? Afinal quem é o Deus e quem é a criatura? Quem comanda o universo? Quem estabelece as regras e quem as deve cumprir? Desde quando houve uma inversão de papéis? Ao pé de Deus nós somos apenas “sub-nitrato de pó de nada”. E, no entanto, este movimento faz uma lavagem cerebral de tal forma que as pessoas são levadas a acreditar que podem fazer e ter tudo o que desejarem, criando um deus à sua imagem e semelhança, que mais não é do que um fantoche submisso aos seus desejos carnais. O testemunho de um micaelense, no referido jornal, diz: “Antes de me tornar dizimista (…) não podia sequer comprar o que necessitava. Mas, depois que me tornei dizimista, passei a ter do melhor! Inclusive, comprei logo dois carros novos. (…) comemos do bom e do melhor e tudo o que queremos comprar, compramos.” Ou este senhor tem negócios obscuros ou saiu-lhe o Euromilhões! Ninguém passa de miséria a riqueza de um dia para o outro e, certamente, não por dar o dízimo! Este tipo de propaganda é levada a cabo por lobos vestindo a pele de cordeiros à espera da primeira oportunidade para devorar as suas presas. E conseguem-no! Declaram que a forma de alguém provar a sua fé é dando dinheiro a Deus, ofertando. Aqui na ilha já fizeram cultos para pedir bênçãos a Deus, com a particularidade de cada bênção ter o custo de mil euros. E, caso o pedido não se concretize, como aconteceu, têm sempre a desculpa de que é Deus quem o recusa. Mas o dinheiro nunca é devolvido. As bênçãos de Deus vêm pela Sua graça, logo não têm preço, são “de graça”. Então se o único e verdadeiro Deus não está por detrás deste “evangelho”, quem estará? Só há uma outra possibilidade: Satanás. Porquê? Porque a riqueza, o sucesso, a realização de todos os nossos sonhos e vontades é exactamente o que Satanás sempre oferece. Chama-se “tentação”, baseada na luxúria da carne, no desejo dos olhos e no orgulho da vida. Satanás tem a astúcia de nos enganar e transformar desejos pecaminosos em coisas aparentemente boas, usando a subtileza para cauterizar a consciência humana. Ele é o pai da mentira, apesar de não mentir descaradamente. Há sempre alguma verdade naquilo que ele diz, mas é a pequena percentagem de mentira que nos pode levar à perdição. Ele enganou Eva no Éden com meias verdades e é capaz de nos enganar da mesma forma se não estivermos bem firmes na Palavra de Deus. O veneno para ratos é composto de 99,995% de comida boa e apenas 0,005% de veneno. Contudo é esta ínfima percentagem que os mata. O que disse Satanás a Jesus no deserto? “Tens fome? Come! Satisfaz-te! Queres riquezas? Prosta-te e adora-me…” Se Jesus foi tentado, muito mais nós! Mas Ele não se deixou enganar, respondendo sempre com a Palavra de Deus, dizendo “Está escrito…”. Por vezes esquecemo-nos que Satanás conhece a Palavra de Deus melhor do que nós. Ele anda por cá há bastante tempo! Mas “não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; (…) aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente.” (1 João 2:15-17). O que é contrário a isto é falso e cria uma falsa visão do Cristianismo e uma falsa visão de Deus. Jesus alertou que a vida de quem O segue não é um mar de rosas: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” (João 16:33).