terça-feira, 10 de julho de 2007

Até já Nani... (5 de Julho de 2007)

“Nani” foi o nome que lhe dei em criança por não saber dizer “tia Juvenália”, e ficou Nani desde então. Eu e a Nani éramos muito amigos, mas também tínhamos as nossas birras e ela deixava de me falar. Foi com ela que aprendi a expressão: “Não te passo mais cartão!” Mas dizia-o a brincar e logo fazíamos as pazes.
A Nani não teve filhos e os sobrinhos mais novos tornaram-se o seu passatempo preferido. Recordo vagamente os fins-de-semana nos Biscoitos, na tenda que o padrinho Eduardo levava na caravana. Foge-me à memória o dia em que ele morreu, mas lembro-me de ver as senhoras da família reunidas a chorar por qualquer motivo e associei a isso. Tinha então cerca de 2 ou 3 anos.
Ainda me lembro quando ela “escrevia” letras nas minhas costas com a farpa com que fazia renda, para eu tentar adivinhar e as horas que passámos entretidos com as cartas do jogo dos cães. Foi na altura em que ela foi viver para casa dos meus avós e nós íamos lá muito ao serão.
A Nani era para mim a coruja da família, no que tocava a sabedoria, experiência e bons conselhos. Não que eu precisasse deles (ou assim o pensava), mas quando mais ninguém podia socorrer, ela tinha sempre a resposta certa.
Era uma dama de ferro, apesar de ter alguma ferrugem nas pernas, que foram sempre o seu ponto fraco. Mas a Nani tinha um sorriso muito bonito e um ar materno muito acolhedor. Todas as crianças da família gostavam dela.
Falo dela no passado porque a Nani faleceu hoje no hospital, onde estava internada há algumas semanas. Não a fui ver, na esperança dela voltar para casa. Não queria que a última recordação dela em vida fosse numa cama do hospital, tal como aconteceu há sete anos com a minha mãe. Mas foi o que aconteceu mal recebi a notícia e lá estava ela, muito diferente da última vez em que a vira, ainda na sua casa. Muito magra e ligeiramente desfigurada, porque não comia quase nada, e com um ar tão frágil que metia dó. E era para ter alta hoje ou amanhã!!!
Para onde foi a minha Nani? Algumas pessoas choram por pensar que é o fim ou porque está tudo acabado. Mas eu acho que sei onde ela está… “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas presentes, nem futuras, nem potestades, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” – Romanos 8:38 - 39 *
Tenho a convicção de que ela está com o Pai. Não digo isto por me julgar mais sabichão ou por acreditar que no fim Deus vai ter misericórdia e ninguém vai para o Inferno (a questão é que nós já estamos por natureza destinados ao Inferno e Deus quer tirar-nos de lá. Cabe a cada um de nós aceitar o resgate que Jesus pagou pela nossa vida.), mas tenho quase a certeza de que ela entregou a sua vida a Jesus, algures no seu percurso. Lembro-me da minha mãe lhe ter falado de Deus e do plano de salvação que Ele tem para nós e de lhe ter ensinado a orar. É por esse motivo que a tristeza que hoje sinto por não a voltar a ver (antes do regresso de Jesus), é sobremaneira pequena quando comparada com a alegria que tenho por saber que a Nani está com Deus. O corpo que estivemos hoje a velar já não é a tia, mas o revestimento carnal com que ela veio ao mundo. O espírito dela, a sua essência, o que a tornava Nani, já partiu para o Pai, até ao dia em que nos voltaremos a ver.
“Mas alguém dirá: Como ressuscitam os mortos? e com que qualidade de corpo vêm? Insensato! o que tu semeias não é vivificado, se primeiro não morrer. E, quando semeias, não semeias o corpo que há de nascer, mas o simples grão, como o de trigo, ou o de outra qualquer semente. Mas Deus lhe dá um corpo como lhe aprouve, e a cada uma das sementes um corpo próprio.
Nem toda carne é uma mesma carne; mas uma é a carne dos homens, outra a carne dos animais, outra a das aves e outra a dos peixes. Também há corpos celestes e corpos terrestres, mas uma é a glória dos celestes e outra a dos terrestres. Uma é a glória do sol, outra a glória da lua e outra a glória das estrelas; porque uma estrela difere em glória de outra estrela. Assim também é a ressurreição, é ressuscitado em incorrupção. Semeia-se em ignomínia, é ressuscitado em glória. Semeia-se em fraqueza, é ressuscitado em poder. Semeia-se corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual.” – 1 Coríntios 15:35 - 44
Que a morte dela possa servir para repensarmos o modo frágil com que chegamos e deixamos este mundo e decidirmos para onde vamos após a nossa partida, “(…) Pois a trombeta soará, e os mortos ressurgirão incorruptíveis, e nós seremos transformados. (…) E, quando isto que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó morte, a tua vitória? Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Mas graças a Deus que nos dá a vitória por nosso senhor Jesus Cristo. Portanto, meus amados, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é em vão.” – 1 Coríntios 15:52; 54 - 58
* (A única coisa que nos pode separar de amor de Deus somos nós, ao rejeitá-lo!)

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